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domingo, outubro 15, 2006

Skinheads de Lenine - Red Skins Portugal

Esta reportagem, publicada do passado mês de Junho, foi retirada do jornal 8ª Colina, propriedade da Escola Superior de Comunicação Social, que sai trimestralmente como suplemento do jornal ‘O Público’. Convém esclarecer, mais uma vez, que este blog não está alinhado com nenhuma corrente político-partidária, dentro ou fora da cultura skinhead. Identificamo-nos com a cultura tradicional skinhead. De qualquer forma não deixaremos de publicar notícias, artigos, entrevistas, etc que abordem a cultura skinhead, mesmo que estritamente do ponto de vista político.

Não vamos colocar aqui todo o artigo. Colocamos apenas alguns parágrafos ou excertos. Para leres a totalidade do trabalho clica aqui: Skinheads de Lenine

‘Paulitus caminha sem pressa pelas ruas da cidade tranquila. Traja um blusão e umas botas à militar, apesar do calor. O pescoço distendido, o sorriso suspenso, toda a linha firme do seu corpo, espadaúdo, possante. Arrasta os pés, mas sem desânimo. Pesa-lhe nos olhos o denso rescaldo de uma noite libertina e vaga. Ao virar de cada esquina, o sorriso alarga-se, a mão estende-se para cumprimentar quem passa, numa troca de palavras serena e prazenteira. Combinam-se “uns copos” e uma ida ao futebol. Quem o vê assim, passeando tranquilamente pela cidade, não imagina que Paulitus, 35 anos, segurança numa fábrica, é perseguido por boneheads (skinheads neo-nazis) há anos. À primeira vista, nada o distingue daqueles a quem chama “o inimigo”: a mesma cor de pele, a mesma ausência de cabelo, o mesmo estilo de calça arregaçada, o mesmo ar rebelde. Mas um olhar atento facilmente descobre indícios de outra ideologia: as botas de cano alto têm atacadores vermelhos e o blusão esconde a foice e o martelo estampados na t-shirt que traz vestida. Num crachá preso ao peito, letras amarelas sobre fundo vermelho formam a palavra “ redskin” (‘careca’vermelho). De grandes olhos castanhos, com longas patilhas cobrindo-lhe parte das faces, Paulitus acumula a condição de militante do Partido Comunista Português (PCP) com a de coordenador da RASH (Red & Anarchist SkinHeads) Unida Galiza-Portugal, secção luso-galega de uma organização internacional de skinheads anarquistas e de esquerda. É skinhead e é comunista. Gosta de futebol e de música ska. Usa suspensórios e t-shirts de Lenine. Rapa o cabelo e chorou a morte de Álvaro Cunhal. A crescente identificação dos ‘cabeças rapadas’ com a extrema-direita levou outros adeptos da cultura skinhead a organizarem-se para demonstrar que pode ser-se skin sem se ser racista ou partidário do nazismo. Na realidade, “os verdadeiros skinheads não têm preconceitos raciais, até porque o movimento nasceu de uma fusão de culturas entre imigrantes negros jamaicanos e operários brancos dos subúrbios de Londres”. Fundada em 1993, em Nova Iorque, a RASH é hoje constituída por 126 secções, dispersas por 66 países da América, Europa e Ásia. Contra o fascismo, o capitalismo, o Estado, a sociedade de classes, a exploração do homem pelo homem e o preconceito em todas as suas formas, propõem-se “repor a verdade acerca da cultura skin”, retomando a sua “origem proletária e multi-étnica”. O anti-racismo vem por arrasto. “Obviamente, não podemos aceitar que pessoas maltratem outras apenas pela cor da pele. Combateremos sempre todo e qualquer indivíduo, grupo ou instituição que perfilhe, explicitamente ou não, essa atitude”.’

‘Paulitus não esquece o dia em que se tornou redskin. “Foi há 20 anos. Eu era punk e conheci um grupo de franceses muito estranho, que apareceu num Fiat Punto roubado. Eram quatro ou cinco tipos, muito limpos, de botas impecáveis e tshirts com grandes foices e martelos”. Um prodígio de imagem e de ideias. Curioso, não pôde deixar de meter conversa. Não fumava, mas foi-lhes pedir um cigarro. “Eu já era músico, era baterista em bandas de metal e punk, mas andava sempre sozinho”. Não tinha ninguém com quem se identificasse, ele próprio um adolescente em luta aberta contra o mundo. Andava vestido de uma forma estranha e veio a descobrir que se vestia exactamente como eles: a t-shirt com a foice e o martelo, os blusões de ganga a que se rasgavam as mangas e em que se cosiam emblemas nas costas. “Eu metia símbolos ‘ red’ sem saber o que era. Na altura, ainda não havia Internet. Nunca tinha sequer ouvido falar em redskins”.’

‘A secção que abrimos recentemente em Pequim também está com muita força. São cerca de 180 reds e têm duas bandas”. Na Europa, há algumas secções mais orientadas para a anarquia ou o anarco-sindicalismo, como é o caso da RASH-Paris. “À frente das manifestações estudantis que decorreram em França, estiveram sempre membros da RASH. Se eu olhasse bem para as imagens, facilmente os identificava”.’

‘Paulitus faz parte do Partido Comunista Português desde os três anos de idade. “Depois do 25 de Abril, o meu pai pôs-me logo nos pioneiros”. Cresceu dentro do PCP. “O Partido é a minha casa”. Ainda adolescente, alistou-se na Marinha, onde foi militar durante cinco anos e meio. Mal esperava vir a criar o ‘Linha Dura’, um grupo - entretanto extinto – de seguranças especilizado em eventos culturais. “No primeiro festival do Sudoeste fui eu quem lá meteu seguranças. Era pessoal ligado à RASH. Temos a particularidade de toda a gente nos convidar para fazer segurança, até o próprio Partido”. Ajudou a trazer “grandes bandas” à Festa do Avante, como Betagarri, Banda Bassoti, Inadaptats, Skarnio e Peste&Sida. Sempre funcionou de uma forma militante, “ou era pago em cervejas ou não era pago”. Para escapar ao ódio corrosivo dos boneheads, teve de vender a casa onde viveu durante anos em Almada. “Como esses meninos sempre foram uns imensos cobardes, vingavam-se com pinturas na minha porta. E a minha mãe, que até era católica, não achava muita piada aos telefonemas às seis da manhã a chamarem-lhe puta bolchevique”. Foi 28 vezes vítima de agressão. “Posso dizer que sou um refugiado político.’

‘Na cidade que escolheu para viver, conta com o apoio de 30 redskins. “O pessoal mais ‘entradote’ começa a reparar em nós, a conviver connosco, e mais cedo ou mais tarde começamos a vê-los com umas botas, com as calças arregaçadas, o cabelo vai desaparecendo... Temos tido algumas surpresas, desde trabalhadores negros da construção civil a estudantes universitários”. E há muitos jovens que ainda não se atreveram a aproximar-se. “Têm vergonha porque nós tornamo-nos uma espécie de mito.’

Fonte: 8ª Colina / Público

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1 Comentários:

  • Eu queria saber como me posso juntar aos redskins à rash unida galiza-portugal..

    Por Anonymous Anónimo, Às 9:07 da tarde  

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