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segunda-feira, março 20, 2006

História dos Sound Systems (Parte I)


A dezassete de Novembro de 1939, um acontecimento mudaria a maneira de fazer música na ilha da Jamaica. Estamos a falar da aparição da rádio. Tratava-se de uma emissora amadora de onda curta, chamada ZQI. Durante os primeiros anos, as horas de emissão eram muito escassas e os conteúdos eram maioritariamente informativos e publicitários. Aos poucos vai-se abrindo um espaço na ZQI à programação musical, dominada nos primórdios por música clássica europeia, música típica americana e, em menor média, melodias clássicas de folque jamaicano. Mas há que ter em conta que esta emissora contava com uns meios muito limitados pelo que a sua influência na sociedade jamaicana foi modesta. Estima-se que nunca superou os cem mil ouvintes.


A segunda referência radiofónica encontra-se na RJR (Rádio Jamaica Redifusão). Substitui a ZQI em 1950 e constitui a primeira rádio comercial da ilha. Nos seus conteúdos mais do mesmo: melodias típicas americanas que apenas agradavam à classe média jamaicana e que portanto não correspondia aos gostos da maioria da população jamaicana.


Nesta altura as preferências do povo jamaicano começavam a eclipsar o Mento (música popular jamaicana), pelo excitante ritmo dançável do Rhythm & Blues. Os jamaicanos acederam a esta música, importada dos EUA, através das potentes emissoras situadas em Nashville, Nova Orleans e Miami. Muitos jamaicanos sintonizavam estas emissoras, que provocavam autêntico furor na ilha. Mas enquanto os teenagers brancos dos EUA bailavam desenfreadamente ao ritmo de Fats Domino ou Little Richard, o povo jamaicano virou-se para o Rhythm & Blues mais adulto e mais “negro”. O R&B era uma música mais fácil de entender para os jamaicanos. De facto, não podemos esquecer que os negros do sul dos EUA sofreram, tal como os jamaicanos, a escravatura nas plantações e nos anos cinquenta experimentaram mudanças sociais muito similares, como foi a migração do campo para a cidade.


Um factor extra-musical que entra em jogo como peça fundamental para compreender a aparição do fenómeno Sound System na Jamaica, viria a ser a precária situação económica da maior parte dos habitantes da ilha. Era praticamente impossível para um jamaicano comum adquirir um estéreo, que podia chegar a constituir 5% do seu salário anual. Nestas circunstância começam a surgir pela Jamaica grandes equipas móveis, destinadas a reproduzir os discos nos bailes, festas, parques e nightclubs. Tratavam-se de autênticos toca-discos comunitários. Corria o ano 1948. Acabavam de nascer os Sound Systems.


Isto motiva a aparição de algumas espertas personagens, que aproveitavam as suas viagens aos EUA para trazer consigo algumas das novidades em 78 r.p.m., que logo passavam nos seus incipientes Sound Systems. À medida que avança a década de cinquenta os Sound Systems vão-se aperfeiçoando, ficando mais potentes e tecnicamente mais sofisticados.


Já na segunda metade da década de cinquenta começam a aparecer alto-falantes chamados House of Joy, do tamanho de um armário de roupa. Uma nova casta de animadores jamaicanos fazia a sua aparição quase men, antepassados dos disc-jockeys (DJ’s). Equipados com material super potente e imensos alto-falantes que transportavam num camião, os sound system men concentravam-se na área central de Kingston (Beat Street), formando uma espécie de pistas de baile primitivas ou dance halls. Localizavam-se em geral nos guetos e consistiam num pedaço de terreno, perto de um bar, onde o promotor comprara a comida e bebida que logo vendia aos que vinham atraídos pela potente música. Dada a frenética actividade destes Sound Systems, em certas ocasiões parecia que toda a ilha estava a dançar. Os sound system men viajavam comercialmente aos EUA para adquirir as gravações exclusivas com que entretiam os seus seguidores. Outras vezes estas chegavam às suas mãos através de marinheiros norte-americanos que faziam escala no porto de Kingston.


Desde este momento começou uma corrida para ver quem era o melhor Sound System man da ilha, o que congregava em torno do seu equipamento de som um maior número de gente. A rivalidade entre eles era intensa e não muito amistosa, inspirando lealdades nos seus seguidores similares às dos adeptos de equipas de futebol. Servindo álcool e passando êxitos a 78 r.p.m, os sound system men tornaram-se senhores da guerra e combatiam em autênticas batalhas musicais entre eles. Controlavam os seus territórios submetendo-os a ensurdecedoras baixas frequências que deixavam toda a gente petrificada nas pistas de baile. Às vezes dois ou mais Sound Systems competiam para determinar quem tinha os melhores e mais exclusivos discos. Os sound system men viajavam a Miami e a Nova Iorque à procura de vinis e, uma vez achados, era frequente arrancarem-lhes todas as etiquetas e apagarem qualquer referência ao selo, ao título ou ao artista. Riscavam mesmo os números de matriz gravados no vinil para estes não poderem ser reconhecidos pelos rivais.

Fonte: Radio Rahim

Tradução: Dr Ray Ban

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