Associação AEZ (França) - Entrevista
A AEZ é uma associação que nasceu em Dezembro 1998. Éramos um grupo de amigos onde se escutava punk por um lado e reggae por outro. O ska fez a união das duas partes, permitindo o nascimento de AEZ, já que vários de nós pensavam em organizar concertos desde há muito tempo atrás. O primeiro concerto fez-se em Agosto 1999 com Skarface, 100 Gr DeTêtes e Arrach Moumouth. Desde o princípio, identificamos a Associação aos nossos gostos, que foram evoluindo com a descoberta de outros sons e movimentos além do punk e rasta, ou seja a influência do movimento skinhead... Tenho de dizer que desde os primeiros tempos, o pessoal da direcção são os mesmos, à parte de um ou dois elementos, cada um com as suas especialidades que decorrem do que fazemos na vida. Assim, posso dizer que o núcleo do AEZ é composto por Guibe, que foi um dos elementos mais decisivos pela constituição e organização material; Ludo, que viveu em Paris durante 7 anos, é o que propõe as bandas, o que tem os contactos, digamos que é um dos directores artísticos, além de ser um coleccionador incondicional de vinis, quer sejam de Ska, Reggae, Oi! ou Punk... Foi também o que "importou" o conceito skinhead para a nossa "Santa Terrinha"... Pepino é o publicitário oral, condutor, sempre muito motivado, se não é um dos que decide verdadeiramente, é o elemento que dá impulso a tudo, além de conhecer um montão de gente no meio underground local, já que é uma pessoa que gosta de falar com qualquer malta. Eu, decido ao mesmo nível que os outros todos, faço os contactos estrangeiros, administração e comunicação, com concepção dos flyers e artigos para os jornais. Atrás destas quatro pessoas, existem outras tantas, menos à vista, mas com motivação sempre intacta para a organização: Flo, Nico (outro luso-francês), Foufe, Cyril, Isa e vários. Chegámos a ser mais de 30 membros na associação. Mas por causa da orientação que lhe demos, esse número foi descendo durante estes anos, e hoje somos 7 ou 8, os que estão citados aqui, os mais importantes, os apaixonados, cujas diferentes competências fazem um todo: AEZ. Ao longo destes sete anos, fizemos 12 concertos com um mínimo de 3 bandas por espectáculo. O público, mesmo sem ser imenso, esteve sempre presente. Hoje, a AEZ está sempre em actividade, mas a vida faz com que cada um tenha os seus objectivos pessoais, e combinado com certas dificuldades organizativas, financeiras ou administrativas, não fazemos tantas datas como antes, limitando a uma data por ano, quando é possível... mas AEZ está sempre viva!!!
2 - Em Portugal assiste-se a uma quase nula actividade cultural/musical "alternativa" fora dos grandes centros urbanos (Nota: Excepto Aljustrel, Glória do Ribatejo...). Como já me tinhas dado a entender em conversas anteriores, Salles-Curan fica numa zona mais rural, fora do rebuliço das grandes cidades. De que forma vês em que esse aspecto possa ter influenciado o começo das vossas actividades enquanto Associação Cultural Juvenil?
3 - Costumam organizar festas / concertos com estilos bem diferentes de música - Reggae, Punk, Soul, Oi!, Funk... É difícil conjugar diferente público ou a união e a sintonia prevalecem sempre?
Considerando que todos estes estilos saem dos anos 60 ou são mais ou menos derivados dos movimentos que nasceram nesses anos, os públicos são vários, mas nem tanto... Primeiro, nunca convidámos bandas de Soul ou Funk, já que bandas desses estilos são difíceis de encontrar. E o Funk não entra verdadeiramente nos gostos da associação, sendo mais uma coisa do London'69. A AEZ está mais virada para o Ska, Early Reggae, até mesmo Roots, Punk, Hardcore e Oi! Mas se vires o histórico, tentamos fazer uns cartazes com uma certa coesão (tentamos, porque segundo as bandas e o dinheiro disponíveis, nem sempre é fácil!). Em relação a isto, o público é sempre composto duma parte de skinheads, punks e crusties (punks da rua, com os cães e tudo a seguir - risos..), duma parte mais pequena de hippies abertos a todos estilos musicais, e por outra parte de gente normal que gosta dos ambientes de concertos. Uma vez ou duas houve umas fricções entre skinheads e hippies, mas de maneira muito local, não generalizada. Estamos sempre com o olho aberto para minimizar estes acontecimentos. Quando não há um serviço de segurança é preciso saber falar às pessoas, ser tranquilo e razoável, saber fazer diplomacia.Num dos últimos concertos dos Kargol's (com os P38 e o Skamizol), a sala estava dividida em três partes. Em frente ao palco: crusties de um lado e hippies do outro e ‘gente normal’ atrás. Cada um dos géneros dançando sem se misturarem!!!Parece uma coisa surrealista, mas evitou-nos o caos!!!! (risos). Nos concertos Oi! & Ska, com a prevalência de skinheads, não houve problemas nenhuns. O principal é que não haja fachos na sala e objectos perigosos. Mas nesses concertos, há sempre um serviço profissional de segurança e o público submete-se, sem problema, ao controlo na entrada e a certas regras de base: sem vidro, sem cães, sem fachos!!!
4 - Enquanto participante, organizador e interveniente, quais os pontos altos que da A.E.Z?
Vou tentar falar em nome de todos os colegas mas parece que o facto de sermos "conhecidos" e reconhecidos até Paris, Estrasburgo, Marselha, Barcelona em meios underground è a melhor coisa para nós. Quando vamos a concertos nessas cidades, encontramos sempre pessoal conhecido, amigos que já nos deram ajuda ou ideias, gente apaixonada, gente como nós! Penso que isso è a melhor coisa do nosso projecto e que os meus associados / amigos estariam de acordo comigo. Outra coisa é, antes e depois dos concertos, ver o ambiente na aldeia, nos cafés, onde punks e skinheads partilham o bar com camponeses e velhotes. É uma visão incomparável, excelente! Em relação aos concertos, o ambiente com Los Fastidios, Psico Rude Boys, Kargol's, 8°6 Crew, Oppressed e bandas deste gabarito foi sempre fixe, com toda a gente a dançar ou a cantar... E claro que em termos de ambiente skinhead, o melhor foi o último, com os The Oppressed e Cabrians. Foi mesmo uma grande noite com 500 pessoas na sala a cantar e a dançar, tanto com Oi como com Ska e Reggae. Só 200 eram da Catalunha e País Basco. Mas quase todos os concertos tiveram um ambiente inesquecível. O que atraiu mais público foi o de Dr Calypso, 8°6 Crew e Komando Moriles. Quase 1000 entradas pagas. Em geral a assistência acaba por ser de 300 a 400 pessoas. Mas teria tantas coisas a dizer nesses aspectos!!! Mas um ponto que está sempre presente, enquanto organizador, é um certo orgulho de ter feito tudo isto desta forma, com o reconhecimento que dai advém, mesmo contando com todas as dificuldades que encontramos. E ao nível de todos os amigos metidos nisto é uma experiência cada vez mais forte, com seriedade, discussões, delírios, disputas, e muitos sentimentos de amizade.
5 - Conta-nos uma peripécia rocambolesca que tenha surgido no decorrer de uma das vossas festas.
Isso é outra história! Tive sempre a mania de querer animar através da música que gostava as noitadas que fazia com amigos. Mas o London'69 nasceu num contexto um pouco mau. Depois do concerto de 10 e 11 de Agosto de 2001, com os Trojans, Granadians (antigamente Psico Rude Boys), Fastidios e outros, acabámos com um grande furo financeiro. Eu era o presidente da AEZ nessa época, e tinha a máxima responsabilidade. A ideia do princípio era fazer dinheiro para, pouco a pouco, ganhar outra vez um saldo positivo. Passar música nos bares e festas dos arredores era uma maneira como outra qualquer, mesmo se não fosse o principal fundo para ganhar este dinheiro todo. Mas ajudou em vários lados: para o dinheiro, mas também para promoção da musica e dos movimentos em que estamos envolvidos. Evidentemente, não faço selekta fora dos meus gostos próprios: só faço early reggae, ska, rocksteady, e também um pouco de soul, funk e boogaloo, principalmente música negra americana dos anos 60, pois é a minha paixão. Os concertos de Punk, Oi! e HC são boas experiências para mim. Mas não compro nem escuto esses géneros. Agora, e desde o dia em que o saldo do AEZ se tornou positivo, o London'69 é entidade aparte e o dinheirinho vai para o meu bolso. Enquanto antes fazia os sounds com CD , agora tenho vindo a investir algum dinheiro no que se tornou numa colecção de vinil, que me segue nos eventos que animo. Ao mesmo tempo, animo um blog na Internet e uma web-rádio do mesmo nome. Estou a construir o site oficial que vai ter a mesma fórmula. Tive sempre a febre de querer partihar o que gosto com outra gente interessada.
7 - Por último, queres-nos dar umas luzes acerca das vossas / tuas actividades futuras, ou algo mais que queiras acrescentar à entrevista?
O futuro é pouco definido... Passados os 30 anos (nascemos todos entre 1974 e 1979), muitos fazem as vidas deles e torna-se mais complicado organizar concertos. Este ano eram previstos os Sham 69 em cabeça de cartaz, e os Pepper Pots estavam ok para vir tocar. Tínhamos os The Templars em discussão também... Mas vários elementos impediram-nos de organizar o evento, já que a Câmara não quer emprestar-nos a sala que foi renovada. A acrescentar a isso, diga-se que uma grande parte da Direcção da Câmara está contra nós. Por enquanto a AEZ mantém-se viva, mas temos que ter em conta um conjunto de aspectos para seguir em frente. É difícil acrescentar outras coisas já que estas perguntas eram muito boas e as respostas já um pouco compridas!!! Por outro lado, os acontecimentos foram tantos ao longo destes anos, que seria preciso um livro inteiro para contar todos os aspectos da vida duma pequena associação como AEZ...Por último, direi simplesmente que, mesmo que vários aspectos dificultem a organização de pequenos eventos em Portugal, é sempre bom tentar, pois são sempre boas experiências. Stay Ruuude! Obrigado a ti e longa vida ao zine! Um abraço!
Fonte: Arredores fanzine
Etiquetas: Associação AEZ, Entrevista, França
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial