Morreu o “rei do ska”. Desmond Dekker, o único nome da música jamaicana a gozar de uma dimensão global ao nível de Bob Marley, contudo sem a sua carga mitológica (e consequente construção de identidade icónica, que se projecta viva nas gerações seguintes), e com uma vida pública sobretudo visível em duas épocas distintas de presença influente, uma em finais de 60, a outra dez anos depois. Foi o primeiro a levar uma canção jamaicana pura (The Israelites) ao top ten norte-americano, portas para si abertas a um mercado até então quase alheado à música da sua ilha natal. E será eternamente reconhecido como uma das mais criativas forças do ska.
Desmond Adolphus Dacres nasceu num arredor de Kingston, na Jamaica, a 16 de Julho de 1942. Órfão muito cedo, trabalhou como soldador, cantando para os colegas nas horas de pausa, o que os levou a encorajá-lo a fazer audições junto de editores locais. Assim foi, cantando em 1961 perante Coxsone Dodd (Studio One) e Duke Reid (Treasure Isle), nenhum deles particularmente impressionado com a sua performance. Melhor sorte teve nos estúdios da Beverly, quando cantou para Leslie Young, a grande estrela da editora Derrick Morgan presente na sala nesse instante decisivo.
Foi a insistência de Morgan que lhe garantiu o arranque de carreira que, mesmo assim, esperou dois anos, Leslie Young em busca da canção certa para o lançar. A canção, Honour Your Father and Mother, chegou em 1963. Êxito imediato, somando dois outros logo a seguir. Dacres muda de nome para Dekker e, em 1964, grava o decisivo single King Of Ska, com os Maytals, canção que anos depois lhe assentou que nem luva ao receber, de mérito próprio, a designação de rei do ska na imprensa britânica. Pouco depois formaria os Aces, com quem gravaria discos inesquecíveis.
A Inglaterra de finais de 60, em plena euforia mod, acolheu-o como um dos seus quando o seu single 007 (Shanty Town), que assinalava uma mudança de atitude e imagem, ali chegou, subindo ao top 20. Em 1967 visitou Londres e outras cidades inglesas numa primeira digressão, seguida fielmente por legiões de mods, que ali encontravam um novo ícone “pop” a seguir. A sua consagração internacional chegaria meses depois quando The Israelites atingiu o primeiro lugar em Inglaterra e entrou, inesperadamente, pelos lugares cimeiros da tabela de vendas americanas. O sucesso de Dekker era visível, abrindo portas das atenções para inúmeros outros jamaicanos, difundindo singles de ska pelo velho e novo mundo.A década de 70 viu-o essencialmente sediado em Inglaterra, editando alguns discos interessantes pela Trojan, mas sem a mesma visibilidade, a nova geração reggae (Bob Marley, Peter Tosh, Horace Andy) somando agora o grosso das atenções.
Todavia, na recta final da década, um surto de interesse pela redescoberta do ska, que surgiu associado às muitas manifestações de descendência da revolução punk, devolveu-o às luzes. Em pleno movimento Two Tone, patrono evidente de nomes como os Specials, The Beat, Madness ou The Selecter, Desmond Dekker assinou pela Stiff Records, Desmond Dekker voltou a ganhar notoriedade, os seus discos todavia não reflectindo a mesma luz e génio de outrora.A década de 80 voltou a silenciá-lo, os anos 90 devolvendo-o ao circuito mais vivo dos discos e concertos, sobretudo depois da curiosa experiência de colaboração com os Specials no álbum de 1995 The King Of Kings.
Nos últimos anos tinha mantido regular actividade editorial, e a sua agenda de espectáculos apontava, para o mês de Junho, uma série de concertos na Suiça, Irlanda e Polónia, aos quais se seguiriam actuações na Bélgica, Reino Unido e Alemanha, datas marcadas até meados de Novembro. Desmond Dekker morreu ontem, em sua casa, no Surerey (Reino Undio). Tinha 64 anos.
Declarações (entrevista) de Delroy Williams acerca de Desmond Dekker e Skinheads.
Weren't there a lot of Jamaican immigrants in England at that point?
Oh, yes. Because in the '60s, when Desmond had his hit, he was working the black clubs and the white clubs. But black folks are not loyal fans. If you're current, yes. But if you're not current, anymore, then that's it. But with white folks, like for instance, jazz. There was a time when jazz was a black thing, but then white folks just take it as their own. It becomes a white thing. There was a time when rock and roll was a black thing. Of course, a lot of people think white folks create rock and roll, which is amazing. You understand?
Yeah, I suppose you had first-hand experience with reggae becoming not just a white thing, but a skinhead thing.
Oh, the skinhead just totally capture, I wouldn't say "reggae," I would say "Desmond's music." The skinheads, Desmond is their god. And then they discovered Laurel Aitken. But Desmond was their god. Because we been to places where people said it was all National Front skinhead.
Did you talk to any of these people?
Oh, yes. I mean, me, personally, when we go to some places that we know that they're National Front. But they just love Desmond's music, I said, "On Saturday night they jump to reggae music, and on Sunday they go kick head in." [laughs]
Were these guys racists?
People used to say they're Nazis. But as far as Desmond was concerned, they were fans. They loved Desmond. I don't know if they like black people, but Desmond was theirs.
Was his fashion style influential? It seemed like the skinheads were copying the way he looked.
Yes, and the mods with the short pants, and the rude boys in the short pants. You know, Desmond's trousers used to be three-quarter length, above his boots. And you look at the rude boys and skinheads today, their trousers stop above the boots. That's Desmond.
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Desmond Dekker
Fonte: Soun + Vision (Nuno Galopim)
Etiquetas: Desmond Decker, Ska